sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Surpresas em Veneza

Veneza é uma cidade única, com seus prédios erguidos sobre as águas do Mar Adriático. Em suas ruas, 12 milhões de turistas por ano se acotovelam para ver museus, casebres, palacetes e as belíssimas igrejas que adornam a cidade.


Entre toda a loucura de gente que anda pela cidade (além dos próprios pés, o outro meio de transporte para circular pela cidade é o vaporetto - ônibus aquático) surgem preciosidades gastronômicas.

Durante a semana em que estive em Veneza tentei fugir dos restaurantes típicos em que os turistas costumam ir.  Normalmente esses lugares tem serviço e comida ruins e preços altos, não necessariamente juntos (e isto é uma opinião minha; e me desculpem os que discordam desse ponto de vista).  Algumas vezes foi inevitável, mas como sempre digo, toda experiência é válida e tem seu lado positivo.

A primeira boa surpresa foi a sorveteria La Boutique del Gelato, localizada na Salizzada San Lio, próximo da Ponte Rialto (aproximadamente 2 a 3 minutos de caminhada).  Mas não fique pensando que esta é mais uma das tantas sorveterias italianas. É muito mais do que isso. A produção é totalmente artesanal e baseada em ingredientes naturais e de qualidade, o que já é um bom começo.  Além disso, as porções são generosas para alegria dos gulosos e a variedade de sabores é bem variada. Isso justifica o grande movimento de pessoas que aguardam para serem atendidas. A sorveteria fica aberta das 10h30 às 20h nos meses de fevereiro a abril e de outubro e novembro, e nos meses de maio a setembro o horário de fechamento se extende até às 23h. Durante os meses de dezembro e janeiro a sorveteria fica fechada.


Perto da Ponte Rialto está o Mercado Rialto, ou Erberia como preferem os vênetos, com suas barracas de frutas, verduras, legumes, peixes, carnes, aves, embutidos e queijos.  A visita vale pelos produtos frescos e pela chance de poder experientar alimentos que só existem por essas bandas.

 

Há alguns passos desse mercado uma grata surpresa surge no caminho, uma portinhola que se abre para um espaço diminuto onde atrás de um balcão estão dois dos sócios do Al Mercà que se revezam no atendimento ao público que se acotovela por paninis e taças de Prosecco Imperial, vinhos e Spritz (drink amargo que os italianos adoram; leva Prosecco e Apperol). Simplesmente uma das melhoras surpresas, primeiro por estar ao lado do mercado que é um imã para os amantes da cozinha, segundo pelas delícias que serve com ingredientes locais e de forma super cool (o que também surpreende) e por fim, pelo visual moderno que se destaque no meio de prédios velhos de Veneza.  Esse lugar funciona desde 1918 servindo comida aos que trabalham e aos clientes do mercado, mas há alguns anos recebeu ares joviais com a vinda dos novos sócios: Gabrielle, Marco e Giuseppe. Dentre as dezenas de opções de paninis destacam-se os de atum com salsão, porchetta trevisana, prosciutto San Daniele com tartufo (incrível), baccalá mantecato e os de almondêgas com molho.  Todos os vinhos são servidos em copos.  Um outro detalhe que vale muito quando se está na Europa é que os preços são muito bons: os copos de vinho saem entre 2 e 3 euros e os paninis entre 1 e 2 euros.



Um outro lugar bom para se comer é o La Zucca - Osteria con Cucina, uma das primerias osterias alternativas de Veneza.  É um local tocado por mulheres que tem como destaque uma cozinha fora dos padrões vênetos: pratos vegetarianos, onde a abóbora é destaque, estão igualmente distribuídos pelo cardápio ao lado de pratos com base de carne, como por exemplo carne de porco com gengibre. No site do restaurante eles se descrevem como restaurante vegetariano, mas isso não é verdade.


O restaurante é pequeno com poucas mesas no interior e algumas no lado de fora (que são as mais disputadas) próximo a uma charmosa ponte. O atendimento não é nada cordial o que decepciona um pouco.


De entrada: figos frescos com queijo de cabra e pesto.  Delicioso. Os figos estavam saborosos e o queijo ácido na medida certa o que contrastava com o doce da fruta.  Eu teria dispensado o repolho roxo da decoração. Pedimos ainda, peperoni con mandorle (pimentões vermelhos e amarelos com amêndoas), que estava muito bom e o enformado de batatas com abóbora, que deixou a desejar - estava seco e sem sabor.


Como primeiro prato: pasta al forno con melanzane e scamorza (um tipo de queijo defumado que lembra vagamente o provolone). Muito gostoso. Na minha opinião faltava um pouco de molho e teria deixado um pouco menos no forno. Pedimos, também, uma lasagna di funghi e zucca que poderia estar melhor e menos ressecada.


E como segundo prato: tagliatta di manzo con polenta bianca. A tagliatta é uma carne cozida por longo tempo na panela.  Estava bom como sabor, mas como aparência percebe-se que havia gordura em excesso e o molho não estava devidamente montado.  Já a polenta poderia ter um pouco mais de personalidade, não tinha sal e nem tempero.  Nos três pratos aparece o mesmo pesto - o que denota falta de originalidade em criar molhos ou coulis diferentes para os pratos da casa.


Girando pelas ruas e pontes de Veneza pode-se encontrar várias docerias graciosas e apetitosas acima de tudo.  É o caso da Pasticeria Ponte delle Paste que tem os famosos torrones com pistache, amêndoas, nozes, frutas cristalizadas ou glaçadas (e realmente valem a pena provar), os merengues com frutas que saltam aos olhos e outras delícias.

Um ponto que não se pode deixar de dizer aqui é a complexidade para achar um lugar que sirva refeições em horários alternativos ou além dos tradicionais (e quase todos são assim) até às 21h. O Al Vecio Marangon é um que foge a regra e fica aberto até mais tarde. É basicamente uma enoteca (local para se beber vinhos) com antipastos. Simples, sem frescuras e com qualidade razoavelmente boa. Há dois tipos de antipastos, um com três tipos de preparações com bacalhau e um outro com oito tipos: de legumes a peixes em preparações diversas. Os preços são bem razoáveis.


E finalmente, estar em Veneza é ver, respirar e viver arte por onde quer que se passe.  Cada detalhe da cidade conta um pouco da história da Itália e do povo vêneto, das viagens e de todas as influências que receberam e assimilaram de outros povos por onde passaram naqueles tempos.  Mas se quer ver arte com qualidade um lugar que recomendo é o Collezione Peggy Guggenheim (ou Peggy Guggenheim Collection) que fica num prédio do século 18 (o Palazzo Vernier dei Leoni) chamado de Palazzo Nonfinito (por ser uma construção inacabada) que no final da década dos anos 1940 foi residência da milionária norte-americana que dá nome ao museu.  O local abriga muitas obras importantes da arte moderna - Picasso, Pollock, Chagall, Dalí, Miró e muitos outros. É o local mais visitado de Veneza e abriga um simpático café com preços bons e razoáveis e com atendimento cordial.

Mas se quiser e estiver disposto a gastar uns euros a mais não deixe de tomar um café ou um capuccino na Piazza San Marco. A vista que se tem, dos prédios que rodeiam a praça e dos mundaréu de turistas que a visitam, vale cada centavo investido.

Serviço:
La Boutique del Gelato
Salizzada San Lio, Castello, 5727 - Venezia
telefone: +39 041 5223283

Mercado Rialto (Erberia)
Ponte Rialto - Venezia

Al Mercà
Campo Bella Vienna (Erberia) S. Polo 213 - Venezia
telefone: +39 346 8340660
e-mail:gmgsnc@gmail.com
horário: diariamente das 9h às 15h e das 18h às 21h30; fecha aos domingos

La Zucca - Osteria con Cucina
Santa Croce 1762 - Venezia
telefone: +39 041 5241570
site: www.lazucca.it
horário: diariamente das 12h30 às 14h30 e das 19h às 22h30; fecha aos domingos

Pasticceria Ponte delle Paste
Sestiere Castello 5991 - Venezia
Telefone: +39 041 5222889

Collezione Peggy Guggenheim
Palazzo Venier dei Leoni
Dorsoduro 701 - Venezia
telefone: +39 041 2405411
site: www.guggenheim-venice.it
horário: diariamente das 10 às 18h; fecha as terças-feira

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